“A irregularidade da cobertura vacinal tem evidenciado o ressurgimento de algumas doenças imunopreveníveis em nosso país, a exemplo do sarampo, além de aumentar o risco para outras doenças como a poliomielite (paralisia infantil), rubéola e difteria”, alerta a professora Glória Teixeira, que coordena o estudo pelo ISC.
A pesquisa domiciliar abrange diversos bairros da capital baiana e é realizada por uma empresa especializa sob supervisão do Instituto. Durante as entrevistas, os pais/responsáveis respondem a um questionário sobre as vacinas já aplicadas na criança e o motivo para a ausência daquelas ainda não realizadas. Os entrevistadores também fotografam o Cartão de Vacinação para registrar os dados apurados.
O estudo foi iniciado em março deste ano, antes da pandemia de Covid-19, e retomado na semana passada, com a adoção de medidas de proteção para os profissionais e pessoas entrevistadas. Durante as visitas nas residências, todos os entrevistadores fazem uso de máscaras, protetor facial e seguem o protocolo sanitário de higienização.
Dados preocupantes
Em 2019, 85,1% das crianças brasileiras receberam a dose da BCG, vacina que protege os recém-nascidos contra a tuberculose. Foi a primeira vez, em 25 anos, que a adesão à vacina ficou abaixo da meta de 90% no Brasil. Os dados coletados são do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde.
“A queda da cobertura vacinal pode estar relacionada a diversos fatores, como dificuldade de acesso às salas de vacinação, impossibilidade dos pais ou cuidadores em buscar os serviços de saúde nos dias úteis, ou até mesmo a recusa dos responsáveis pela criança em vaciná-las”, observa a professora Glória Teixeira.
O levantamento aponta ainda que 75,7% das crianças baianas receberam a vacina no ano passado, também abaixo da meta de 90%. Em dez anos, a queda da cobertura da BCG foi de 29% na Bahia (2009-2019). Em Salvador, apenas 69,1% das crianças receberam a dose em 2019. Nos últimos dez anos, a queda na cobertura da BCG no município chega a 40% (2009-2019).
As metas também não foram alcançadas em nenhuma das demais vacinas do calendário básico (Rotavírus, Meningocócica C, Pentavalente, Pneumocócica, Poliomielite, Febre Amarela, Tríplice Viral e Hepatite A). Na Bahia e em Salvador, a adesão mais baixa foi registrada em relação à Febre Amarela: 64,8% das crianças receberam a vacina no estado; no município, 60,75%. No entanto, a meta para essa vacina é de 100% de acordo com o Ministério da Saúde.
“Até 2015, a média de cobertura das principais vacinas indicadas ao público infantil esteve acima da meta. Nos anos seguintes, esse percentual vem decrescendo gradualmente em todo o país, inclusive no estado da Bahia e no município de Salvador”, destaca Ramon Saavedra, pesquisador do ISC/UFBA.
Segundo ele, os índices de coberturas vacinais refletem, direta ou indiretamente, a adesão da população ao programa regular de vacinação, a existência de pessoas vivendo sob risco de doenças imunopreveníveis, além da efetividade dos serviços.
“Esse monitoramento representa um importante instrumento de planejamento, análise e avaliação, e deve ser implementado de forma contínua no sentido de instrumentalizar a tomada de decisão nos diferentes níveis de gestão”, conclui.
Fonte: Edgardigital.